O mercado de indie games brasileiros se expande cada vez mais, mas poucos títulos trazem uma inspiração nacional tão vívida e ao mesmo tempo criativa quanto Dandara, do estúdio mineiro Long Hat House. Em um cenário pós-apocalíptico, a protagonista Dandara simboliza resistência e esperança. Se o nome já não é sugestão o suficiente, o belo cabelo afro da heroína dá conta do recado. Ela é inspirada em Dandara dos Palmares, esposa de Zumbi e figura histórica de extrema importância na luta contra a escravidão. Apesar da inspiração, o game Dandara não se passa no Brasil e muito menos no século XVII. Em vez disso, trata-se de um cenário fictício, um lugar chamado Sal, onde o povo é oprimido pelo tirano Eldar. Um mundo a beira de um colapso, onde a esperança trazida por Dandara é mais do que bem-vinda. Segundo João Brant e Lucas Mattos, criadores do estúdio Long Hat House, fazer um jogo histórico com escravidão como tema central seria um projeto um tanto ambicioso, que vai muito além da vivência dos dois. Além disso, para fazer jus a este tema, o foco do jogo se tornaria a narrativa, o que não é interessante para o Long Hat House no momento. Uma alternativa mais interessante e realista para a equipe foi adaptar os temas de opressão e resistência em um cenário novo, com o foco principal do game sendo as mecânicas e sistemas. E, convenhamos, o resultado foi um sucesso. Dandara é um platformer no estilo Metroidvania, com pixel art e tudo o que se tem direito. O diferencial do game é a movimentação da personagem. Inicialmente idealizado para mobile, sistema mais prático e com maior alcance para games hoje em dia, a equipe do Long Hat House correu atrás de criar uma jogabilidade que funcionasse bem para touchscreen. O resultado foi além das expectativas. Ainda mantendo a estética clássica dos platformers, Dandara inova ao fazer com que a personagem se movimente pela tela com ganchos. Em resumo, você clica na parte do cenário para onde quer que ela vá e, se possível, ela vai fincar o gancho e se mover para lá. Na mão de um jogador hábil, isso permite que você se movimente com extrema agilidade pela tela. Uma solução muito inteligente para o desafio que é incorporar mecânicas retrô em dispositivos móveis. Na prática, o lançamento de Dandara foi para direções que a equipe não esperava. O game está disponível desde o começo do ano na Steam e para Nintendo Switch, o mais novo console da Nintendo! Dandara, sem dúvidas, marca mais um passo vitorioso para a indústria nacional de games. E, dessa vez, com direito a várias referências à nossa cultura, como a presença da pintora Tarsila de Amaral, por exemplo. Com jogabilidade fluída, gráficos interessantes, uma trilha sonora belíssima composta por Thommaz Kauffmann e diversas indicações a prêmios, Dandara é uma prova de que começamos 2018 com o pé direito.